Mês da Mulher

O Reboliço De Olympia

março 29, 2018o¤° SORRISO °¤o


Cheguei ao final das comemorações do Mês da Mulher, no BCArte, falando sobre as pinturas com mulheres que se tornaram famosas e inesquecíveis. 

Para encerrar a homenagem às mulheres, escolhi falar de uma obra de arte que provocou muita polêmica quando foi exposta. Hoje é dia de Olympia, obra de Édouard Manet

Olympia 

Olympia, segundo o próprio Manet, é uma de suas obras mais importantes. Trata-se de um óleo sobre tela que mede 130,5 x 190cm, pintada em 1863 e que foi inspirada na “Vênus de Urbino”, de Ticiano, de 1538. 


"Olympia", obra-prima de Édouard Manet 


Nesta pintura, somos apresentados a uma mulher totalmente nua, com um coque no cabelo – penteado da época – e reclinada em uma cama, vestida apenas com alguns enfeites que nada escondem. Mais uma vez não vemos a nudez de uma deusa mitológica, e sim a nudez de uma mulher real e que, aparentemente, ganha o seu pão de cada dia como prostituta. Sim senhor. Olympia é uma cortesã francesa recostada em sua cama com os lençóis desarrumados, evidenciando o que aconteceu momentos antes. 

Um corpo magro e juvenil, diferente do padrão mais rechonchudo daquele tempo, sugere seu despudor e é enfatizado pela iluminação dura e implacável que dá um toque de insolência à cena. O contraste obtido por Manet entre o fundo escuro e a luminosidade da modelo é estupenda. A luz ilumina Olympia e só ela, enquanto o resto da pintura permanece na escuridão.   

A obra-prima de Manet encontra-se no Museu d’Orsay em Paris, França. 

Olympia. Que Nome É Esse? 

O nome Olympia era o “nome artístico” escolhido por oito entre dez prostitutas na Paris da década de 1860. 


A tela "Olympia" exposta no Museu d'Orsay, em Paris, na França 


Olhar 

Seu olhar é determinado e provocador, duro e conformado que sequer se volta para olhar o que sua criada lhe traz nas mãos. 

Olympia não tira os olhos de seu admirador, do lado de fora da tela, confrontando-o sem nenhuma modéstia. É desafiador e totalmente indiferente ao que acontece ao seu redor. 

Adereços 

A modelo em sua pose confiante está usando alguns adereços com características muito relevantes. 

1. A orquídea rosa no cabelo revela sua sexualidade, pois está associada a poderes afrodisíacos. 

2. O chinelo Luís XV pendendo e o outro (da direita) caído indica a inocência perdida. Além de ser símbolo de fetiche e de sua condição de prostituta elegante. 

3. A pulseira de ouro e os brincos de pedras ou pérolas simbolizam sua contemporaneidade, indicando que se trata de uma mulher real com a qual poderíamos nos deparar. 

4. A fita preta no pescoço quebra a brancura de sua pele angelical e enfatiza ainda mais a sua luxúria e a sua nudez. 

5. O xale oriental florido no qual ela se deita indica extrema riqueza e sensualidade. 


Susan Herbert pintou sua versão de Olympia de Édouard Manet, com gatinhos 


Intimidade Escondida  

A mão esquerda de Olympia não está descansada em sua intimidade, demonstrando decoro, na verdade, sua mão a bloqueia, indicando que é ela, a prostituta, quem concede ou restringe o acesso ao seu corpo em troca de pagamento ou não. A decisão é dela. É ela quem controla sua própria sexualidade. Uma posição singela, mas que indica sua independência dos homens e sua dominação sexual sobre eles.  

Buquê De Flores  

É no buquê de flores, trazido por sua criada, que está toda a carga erótica da tela. Afinal, o ramo de flores é presente de um cliente ou admirador, sugerindo os prazeres ofertados. O fato é que Olympia não dá a menor importância à empregada com o buquê e, aparentemente, sente-se entediada, indicando que não é a primeira vez que isto acontece e que ela não precisa deste presente ou que não o deseja. 

Símbolo da sexualidade feminina, as flores, que também aparecem no xale oriental, realçam sua condição de prostituta. 

A Criada 

A criada negra e totalmente vestida acentua ainda mais a nudez de sua patroa. Talvez esperando o momento certo para entregar o buquê de flores, a pintura evidencia um distanciamento afetivo entre empregada e patroa. 

Gato Preto 

O gato preto aos pés da cama pode indicar superstição, pois o panorama apresentado na tela poderia ser visto como um tabu para a sociedade da época. 

De olhos bem abertos, com a cauda levantada e o pelo eriçado, o gato sugere ansiedade, sexualidade e liberdade. Representa o mistério e a beleza sensual, além da malícia feminina e, assim como Olympia, ele olha diretamente para o espectador que está em frente da tela. 


A "Vênus de Urbino" (1538) de Ticiano serviu de inspiração para Manet e sua Olympia 


A Modelo  

Quem era Olympia? Desta vez a pergunta tem uma resposta direta. Olympia era Victorine Meurent, 30 anos de idade, uma das modelos favoritas de Manet e que inclusive posou nua para uma tela anterior “Almoço na Relva”. Além de modelo ela também pintava, mas foi seu olhar severo e penetrante que deu o que falar aos críticos machistas e hipócritas da época. 

Alvo De Críticas 

O quadro Olympia foi pintado em 1863, mas só foi exposto em 1865 no Salão de Paris. A obra foi alvo de diversas críticas muito duras naquele tempo. E não foi o fato de que não houvessem mulheres nuas penduradas nas galerias. Não foi isso. Foi o fato de que a “sua” mulher nua não era uma ninfa ou deusa mitológica, um ser mítico e inalcançável e sim que era uma mulher real e com defeitos como todos nós, mais do que isso, ela era uma prostituta parisiense

Acredito que Olympia com seu olhar desdenhoso, irreverente e inabalável, confrontando e encarando o próximo cliente que se encontra bem na sua frente, fora da tela – o espectador que a observa e a deseja em segredo – é que tenha causado tanto desconforto para a sociedade moralista e hipócrita da época. Foi considerada uma obra indecente, além de ser um tremendo escândalo o atrevimento da cortesã em olhar abertamente para um homem e de forma tão descarada, mesmo que através de uma pintura. 


"Uma Moderna Olympia" (1874) de Cézanne 


Um Pouco Sobre Édouard Manet  

Édouard Manet nasceu em 23 de janeiro de 1832, em Paris, capital francesa. Influenciou tanto o movimento Impressionista que acabou se tornando o pai deste movimento. Contudo, Manet nunca abandonou por completo o realismo em suas pinturas. Através dos jogos de luzes e sombras Manet registrava de forma magistral a vida real e verdadeira de seu tempo. 

Aos 17 anos, por insistência do pai, ingressou na tripulação do navio-escola Havre et Guadaloupe que partiu em 8 de dezembro de 1848 de Havre, na França, para o Rio de Janeiro, no Brasil. Como ajudante de camareiro recebeu do comandante tintas e pincéis para registrar as despensas do navio. Às vezes não dá para escapar do destino. Esta foi a primeira vez que Manet mexeu com tintas. 

Durante os três meses que o navio ficou ancorado no porto do Rio de Janeiro, Manet apreciou as cores fortes, as luzes e o esplendor da natureza do verão carioca. De volta à França, ele resolveu estudar pintura. 

Em 1852, aos 24 anos, nasceu seu filho ilegítimo com Suzanne Leenhoff chamado Leon Leenhoff. Para a família tradicional do pintor o caso e a criança eram uma afronta. Somente anos depois, em 1863, após a morte de seu pai, Manet e Suzanne se casaram. 


Édouard Manet (1832 - 1883) 


O pintor viajou para diversos países a fim de se libertar das influências de seu antigo professor e encontrar seu próprio estilo. Manet com seus nus provocou muita polêmica na época, pois costumava retratar mulheres reais e contemporâneas da sociedade francesa. Esse contexto moderno em que expôs suas musas e ideias foi considerado revolucionário. 

Sombras luminosas, pinceladas fortes, manchas de diferentes tonalidades e as superfícies mais vibrantes e reveladoras marcaram sua obra. E em 1871 promoveu a primeira venda de seus quadros, onde só um comprador adquiriu 22 telas e pagou a quantia de 35 mil francos. Nada mal. 

Apesar dos ataques às suas obras, Manet era prestigiado pelos impressionistas, o jornalista Antonin Proust e escritores como Baudelaire, Émile Zola, Stéphane Mallarmé por sua ousadia artística. 


Uma brincadeira com Olympia na forma de Barbies 
Mais uma brincadeira: O café da manhã no quadro de Manet. Pode? Hahahaha! 



Sua saúde ficou abalada quando adquiriu uma infecção na perna. O mal diagnosticado seria ataxia locomotora, doença associada aos estágios finais da sífilis. Às vésperas da Páscoa de 1883, amputaram sua perna esquerda gangrenada. E no dia 30 de abril, após um mês de agonia, Édouard Manet faleceu aos 51 anos de idade. 

Um ano depois de sua morte, numa exposição póstuma com as obras do pintor, os críticos reverenciaram sua genialidade e o consideraram um dos maiores pintores de seu tempo. Uma pena que em vida seu talento não tenha sido reconhecido por eles que só souberam achincalhar seu trabalho. 

É Isso Aí!  

Este é o fim das homenagens ao Dia Internacional das Mulheres por aqui no BCArte durante todo o mês de março, cuja TAG é Mês da Mulher

Espero que tenham curtido ler as postagens tanto quanto eu curti ao fazê-las. Deixem seus comentários aí embaixo e me digam qual foi o post que mais gostaram

4. O Reboliço de Olympia 



Beijos mil! :-) 
Criss 


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